Publicado em Homilias, Teologia, Trindade

TRINDADE: FUNDAMENTO DA VIDA CRISTÃ

(Solenidade da Santíssima Trindade, 03/06/2012)[1]

  Evangelho: Mt 28,16-20

 “Ide e fazei que todas as nações se tornem discípulos, batizando-as em nome do Pai, do Filho e do Espírito Santo.”

 

Caríssimos irmãos e irmãs,

 1. Celebramos hoje a Solenidade da Santíssima Trindade. A princípio podemos indagar sobre qual a necessidade de tal festa, ou, por qual razão ela nos é proposta. Em virtude do que Ela, a Santíssima Trindade, significa para nós, temos muito a comemorar. Toda a ação da Igreja é movida por Ela e Nela se realiza. Toda a História da Salvação, da criação até a vinda de Cristo, se deu por Seu dinamismo. Cada pessoa da Trindade, na unidade da distinção e sem confusão de papeis, opera a Graça que lhe cabe na hora devida. Assim, gostaria de relembrar a missão que cada pessoa da Trindade, a saber, o Pai, o Filho e o Espírito Santo, realizou no decorrer da história salvífica e continua realizando em nossas vidas. Na origem e no fim de tudo está a comunhão dessas três pessoas. Uma não existe sem a outra; na ação de uma, todas as outras estão presentes.

 2. O livro do Gênesis inicia afirmando que “no princípio Deus criou o céu e a terra” (Gn 1,1). E o livro da Sabedoria diz: “Sim, tu amas tudo o que criaste, não te aborreces com nada do que fizeste; se alguma coisa tivesses odiado, não a terias feito. E como poderia subsistir alguma coisa, se não a tivesses querido? Como conservaria sua existência, se não a tivesses chamado?” (11,24-25). Ora, essa é essencialmente a missão de Deus-Pai. Toda a criação é fruto de suas mãos. Na origem de tudo está Deus-Pai que quer dar início a uma história de amor; num relacionamento aberto e recíproco entre Ele e o ser humano. Um diálogo de liberdade em que o único privilegiado é o homem. A factualidade da criação não está restrita ao passado, mas tudo se faz continuamente. A criação é o momento em que Deus dá o seu ser, a sua existência ao mundo. Em categorias filosóficas: o ser é; perdura por todo o sempre. Algo não pode ser por um tempo e depois deixar de ser, assim, Deus continua a nos dar o seu ser. “Ele não só cria, mas mantém a obra criada” (CIC 301). Eis a necessidade que temos Dele! Afastar-se de Deus é afastar-se de sua essência, que é o amor. O cristão é cotidianamente convidado a se sentir parte da obra de Deus. No exercício da vida cristã somos introduzidos num relacionamento paternal com Deus. Se a nossa prática de fé não nos estimula a um contato com Deus criador, corremos o risco de nos sentirmos donos do mundo, e tudo será avaliado segundo as nossas vontades.

3. No ápice da história da salvação se encontra a figura de Jesus, o filho de Deus. Na carta aos Gálatas, Paulo afirma: Quando, porém, chegou a plenitude do tempo, enviou Deus o seu Filho, nascido de uma mulher, nascido sob a Lei, para remir os que estavam sob a Lei, a fim de que recebêssemos a adoção filial” (4,4). A plenitude dos tempos significa o momento determinado por Deus para se manifestar de forma definitiva e substancial; não haverá outra. Em Cristo se manifestou toda a bondade de Deus. Por meio Dele sabemos que temos um Deus que é Pai, e assim, nos ensinou a chamá-lo. Por meio Dele somos agraciados com a condição de filhos de Deus, e, consequentemente, merecedores de seus bens. Portanto, Cristo opera a obra da redenção. Nele somos salvos do pecado e da morte e colocados numa situação de merecedores dos bens eternos. Cristo, o Filho, assume nossas faltas e na cruz nos coloca de novo em comunhão com Deus-Pai. O verdadeiro cristão é aquele que se identifica com Cristo-Filho e assume o mesmo caminho traçado por Ele. O Cristão nada mais é do que outro Cristo. Isso implica levar a fio todo o seu modo de ser, existir e pensar. “Tende em vós o mesmo sentimento de Cristo Jesus” (Fl 2,5), assim se expressa São Paulo na carta aos Filipenses.

 4. Como garantia de sua eterna presença no meio de nós, o Deus-Filho nos prometeu enviar o seu Espírito. Não se trata de um espírito qualquer, mas do Espírito Santo, o paráclito. “Mas o Paráclito, o Espírito Santo que o Pai enviará em meu nome, vos ensinará tudo e vos recordará tudo o que eu vos disse” (Jo 14,26). Ora, a obra do Espírito é essa mesma: recordar o que Jesus nos ensinou; garantir que Cristo estará sempre presente em nosso meio. A vinda do Espírito Santo significa que agora somos nós os continuadores da missão de Jesus. Ao passo que damos continuidade à missão de Jesus, realiza-se em nós a graça da santificação. Assim, o Espírito Santo tem a missão de santificar todas as coisas em Cristo. A Igreja vive e é movida pelo Espírito; podemos dizer que Ela é templo do Espírito Santo. Somos movidos e impulsionados por sua ação. Que bom seria se sempre fôssemos capazes de ser dóceis ao seu impulso! Muitas vezes abafamos sua ação e colocamos como centro motivador os nossos gostos e o nosso querer. A Igreja só realiza verdadeiramente sua missão quando Ela se prostra diante do suave, mas, ao mesmo tempo, intenso sopro do Espírito, capaz de abalar as estruturas e trazer a novidade e refazer todas as coisas. O Cristão deve clamar a presença do Espírito para que a nossa vida se torne uma oferta agradável a Deus.

 5. Caríssimos irmãos e irmãs, aqui está o mistério de nossa fé, o fundamento da vida cristã. A Palavra de Deus nos diz que devemos ser batizados em nome do Pai, do Filho e do Espírito Santo. O batismo, porta de entrada para a vida cristã, nos insere desde o início nesse mistério. Quer dizer que passamos a fazer parte da Santissima Trindade; somos inseridos nela por meio de Cristo. E o fim último do fiel é a sua participação plena na comunhão da Trindade. Fomos gerados por Ela no batismo e repousaremos Nela no fim de nossa vida. Por conseguinte, o discípulo é aquele que vive sob o dinamismo da Santíssima Trindade. Que deixa ser conduzido por Ela. Que estabelece uma relação fiel e saudável com cada uma das três pessoas.

 6. Que Deus, uno e trino, nos dê a graça de sermos sensíveis para percebermos sua presença atuante em nosso meio. E assim, entrarmos no ativo relacionamento de amor da Trindade, para que, desse modo, sejamos criaturas novas, a fim de restaurar todas as coisas no amor.

 

Paulo Ricardo Moreira Vivaldo[2]


[1] Homilia proferida pelo autor na Disciplina “Homilética” e indicada pelo prof. Pe. Joaquim Cavalcante para publicação no Blog do Instituto.

[2] Seminarista da Diocese de São Luis de Montes Belos, no 4º ano de Teologia no IFTSC.

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INTRODUÇÃO À PRIMEIRA PARTE DO CATECISMO DA IGREJA CATÓLICA (CIC)

ImagePretendemos fazer um caminho pedagógico semelhante a uma escola da fé. Nada mais justo que começar com a origem e a profissão da fé. Adentraremos na primeira parte do nosso catecismo: a “profissão da fé”. Exploraremos os primeiros concílios ecumênicos de caráter cristológico e trinitário, no qual foi discutido sobre a divindade e a humanidade de Jesus e sobre as três pessoas da Santíssima Trindade: um único Deus em três Pessoas, a saber, uma única essência em três Pessoas Distintas.

Constataremos que as dúvidas de fé dos primórdios eram semelhantes as nossas. Destarte, afirma Santo Agostinho: “devemos compreender para crer e crer para compreender”. Portanto, vamos buscar dar razões de nossa fé. Jamais esquecendo que a razão e a fé devem caminhar e estar completamente unidas: semelhante aos nossos pulmões ou semelhante às duas asas dum pássaro.

De início é necessário lembrar que a “profissão de fé” (o creio ou credo), é dividida em quatro partes. Quando professamos nossa fé nos domingos e solenidades afirmamos que cremos em: 1) Deus Pai Todo-Poderoso, 2) Jesus Cristo Salvador, seu único Filho – e que não teve irmãos uterinos ou sanguíneos, 3) no Espírito Santo e 4) na Igreja Una, Santa, Apostólica e Católica.

A parte: “profissão da fé” do Catecismo da Igreja Católica (CIC) inicia-se no parágrafo 26 e vai até o parágrafo 1065 do mesmo. Em suma, é uma parte completamente dogmática, cristológica, antropológica e eclesiológica.

Do parágrafo 26 ao 66 o CIC destaca dois movimentos, a saber, um imanente-antropológico no qual “o homem é ‘capaz’ de Deus” e outro transcendente-cristológico: “Deus vem ao encontro do homem”. Apresentaremos estes dois movimentos no próximo texto.

Diácono Ueslei Vaz Aredes[1]


[1] Seminarista da Diocese de Itumbiara, no 4º ano de teologia.

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… PAI DE ISRAEL

Continuação do post anterior “… PAI QUE CRIA“.

“O meu filho primogênito é Israel” (Ex 4,22).

“Tu, Senhor, és nosso Pai” (Is 63,16).

Quando Jesus nasceu, Deus já era Pai de um povo que preparava sua vinda. Foi para este povo que Deus primeiro se revelou e falou de muitos modos. Ele é um Deus que fala, testemunha os primeiros versículos da Bíblia. Toda vez que ele fala, sua palavra produz efeito, gera um ser. Ao falar, sai de si, de seu mistério e vai ao encontro do outro, de Israel. Desde o início, sua palavra é um anúncio da encarnação. Ela já traz as características de pessoa e delineia sua geração. A fala de Deus é sinal de sua reciprocidade para com o povo de Israel, reciprocidade antes exercida na relação com o Filho na eternidade. Essa proximidade se estreita quando Ele estabelece uma aliança com esse povo, prefigurando sua proximidade total na nova aliança. Em todos esses momentos Deus fala em linguagem humana para ser compreendido, mas continua sendo Palavra de Deus.

Sendo um Deus que fala, ele diz seu nome. “Eu Sou aquele que É”. Na tradição judaica o nome não é apenas a identificação de uma pessoa, mas designa seu próprio ser. Nesse caso, Deus e o seu nome são idênticos, mas também distintos. Ao dizer seu nome, ele se identifica e se entrega a Israel, mas permanece distinto, diferente do povo. Desse modo ele entra no mundo e permanece nele, de modo evidente, escolhendo um lugar para habitar, mesmo que o mundo não possa contê-lo. A revelação do nome é bastante significativa para a história da salvação. Quando veio a plenitude dos tempos, o nome deixou de habitar em um lugar para identificar um Homem, de nome incomparável, “nome sobre todo nome” que ‘manifesta o nome’ de Deus Pai.

O Deus Pai de Israel também falou por meio de anjo, mensageiro que o representa, fala como se fosse o dono da mensagem. Este enviado reforça a relação entre Deus e o povo de Israel. Ele torna visível o invisível, mostra a imanência, mas Deus permanece transcendente, até o envio do Anjo, na plenitude dos tempos. Outro meio pelo qual Deus se comunica a Israel, aproximando os laços de paternidade e filiação, são os profetas. Eles também são mensageiros que falam e agem em nome de Deus, revelando sua paternidade. Entre Deus e os profetas existe uma íntima e profunda relação, tão intensa que a Palavra de Deus é também palavra deles, os sentimentos de Deus são também deles. Eles não só portam a palavra, como também mediam a presença de Deus junto a seu povo. Também eles prefiguram o Profeta de Deus, o mensageiro que porta e é a mensagem.

Por meio destas e de outras revelações, Israel torna-se o “primogênito” de Deus neste mundo. Ele é a prefiguração da paternidade eterna de Deus para com seu Primogênito, seu Filho Unigênito. O próprio Deus disse ser “pai para Israel” e o povo reconhece isso ao acreditar que ele é o Criador, o Libertador que estabelece uma aliança e consolida assim uma relação de Pai e filho: o Pai que dá o ser e o filho que o recebe. Nessa relação, supõe-se a obediência, mas o que prevalece é o amor paterno, tão terno quanto o de mãe. Porém, Deus não quis que esse amor ficasse apenas para Israel, mas que fosse conhecido por todos os povos. O privilégio de Israel reveste-se então de responsabilidade para mostrar ao mundo seu Pai. Por isso, Israel prepara o mundo para vir o Filho que concede a todos a graça da filiação. E prova disso é que, ao longo da história, muitas vezes é evidente a promessa de um herdeiro, de um Filho que estenderia a herança à coletividade.[1]

Mario Correia[2]


[1] Texto originalmente publicado no blog do autor.

[2] Seminarista da Diocese de Barreiras, no 3º de Teologia no IFTSC.

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…PAI QUE CRIA

“… nele foram criadas todas as coisas.
… tudo foi criado por ele e para ele ” (Cl 1,15-16).

No texto anterior[1] terminamos dizendo que Deus é essencialmente Pai. Todas as suas obras trazem os traços dessa paternidade, não para acrescentá-la, mas para expressá-la de diversos modos. A obra da criação é um exemplo disso. Todas as coisas são criadas por Deus. É ele o sujeito dessa ação. Mas ele não age sozinho. Ele age por meio do Filho, no Espírito; pressupõe-se, então, o mistério trinitário. E mais: supõe-se que as intervenções de Deus procedem sempre de sua paternidade, sempre por meio do Filho. É nesse sentido que dizemos que o Filho, o Verbo encarnado, é o “primogênito de toda criatura”. Mas sua primogenitura, sua anterioridade, por assim dizer, não é temporal, pois ele não está no começo da história, mas acima dela, num eterno nascimento, no qual começa a atividade do Pai.

Afirmar que o Pai cria por meio do Filho significa dizer que tudo tem origem em Deus, em sua paternidade em relação a Cristo. Mas não é só isso. O Pai sempre age na direção do Filho, ou seja, a criação tem um dinamismo que a leva para o Filho. É ele o Alfa e o Ômega, não só a origem, como também a plenitude final da criação. Como consequência, toda a criação está, em seu dinamismo, inquieta, pois é atraída para o Filho, sua plenificação. Desse modo, o mundo existe em evolução, numa realização progressiva, pois é criado por Alguém e para Alguém. É dentro desse dinamismo que se situa o homem, ávido por sua plena realização pessoal, ou melhor, por sua dignidade pessoal e filiação. E é nesse dinamismo que ele encontra o sentido do mundo, da vida e da existência, pois o início tende a um fim.

O Pai cria no Espírito, poder gerante do Pai. O Espírito, que é Amor, desperta Deus, o Amante, à geração do Filho, o Amado. É pelo amor que o Pai tem para com o Filho que ele cria o mundo. Então, procedendo do amor do Pai, a criação é obra filial. O Espírito que gera o Filho na eternidade é o mesmo que gera a criação, tornando-a obra filial. Sendo a criação filial, vale também dizer que nela vemos o Pai, pois ela é um espelho que o reflete. Mas, ela não é capaz de revelar as profundezas do mistério de Deus que só o Filho, conhecedor de sua intimidade, é capaz de fazer.

Uma vez que a criação nasce na geração do Filho, seu começo até se dá no tempo, mas sua origem é na eternidade. Isso quer dizer que Deus Pai não se tornou criador depois que as coisas começaram a existir, Ele o é desde sempre. Por originar-se no seio trinitário, a obra da criação é um transbordamento do amor do Pai pelo Filho, no Espírito. Esse mesmo amor que transborda, depois é recolhido, retraído para o seio trinitário, de onde saiu. Enquanto isso, a criação segue seu rumo evolutivo, aberto, mas direcionado. E o homem, consciente disso, colabora nesse processo, enquanto ele mesmo é beneficiado, participante da eternidade divina. Essa colaboração é o modo de retribuir ao Pai criador sua gratuidade amorosa. Ele que cria o mundo para ser plenificado em Cristo, cria também o homem para realizar-se no Filho, tornando-se filho n’Ele. Cabe-nos esclarecer ainda, que toda a criação traz os traços da filiação por proceder-se do Pai, mas não são filhos, como os homens, criaturas prediletas do Pai.[2]

Mario Correia[3]


[2] Texto originalmente publicado no blog do autor: < http://mariocsj.blogspot.com.br/2012/02/1-pai-que-cria.html&gt;

[3] Seminarista da Diocese de Barreiras, no 3º de Teologia no IFTSC.

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Deus é Pai

“Senhor, mostra-nos o Pai e isso nos basta.
Jesus respondeu: Quem me vê, vê o Pai” (Jo 1,18).

 Desde sempre se comunica conosco. A carta aos Hebreus nos diz que “muitas vezes e de modos diversos” ele tem nos falado. Ele multiplicou as palavras, pois nenhuma das que eram usadas exprimia todo o seu mistério. Mas depois ele falou uma só Palavra e disse tudo: Jesus Cristo é a única Palavra que exprime o mistério de Deus. Ele anuncia seu nome, o de Pai do Filho único. Por ter falado sempre, Deus não era desconhecido em Israel. Porém, Cristo revela algo desconcertante para aquele povo: Deus é Pai. Ele sempre deixou transparecer sua paternidade em Israel e no mundo. Ao enviar seu Filho, Deus confiou a missão aos apóstolos de anunciá-lo às nações. O testemunho apostólico refere-se a Jesus que, por sua vez, revela o Pai. A boa nova anunciada por Jesus consiste em dizer que Deus é Pai e nós podemos nos tornar filhos.

Na literatura cristã, o termo Deus é usado como sinônimo de Pai de Jesus e se refere também à primeira pessoa da Trindade, aquele que gera o Filho no Espírito Santo. Todas as vezes que dizemos que Cristo é Filho de Deus, estamos nos lembrando do Pai, de sua paternidade. Essa paternidade é característica peculiar de Deus, só ele é Pai por excelência. A tradição judaica tem uma grande reverência por Deus, por sua glória, a ponto de considerar uma blasfêmia o fato de Jesus o chamar de Pai. Mas é justamente essa a grande boa nova que Cristo trás, não só chamá-lo de Pai, mas ‘papaizinho’ (Abba Pai) e, ainda, dizer que podemos participar dessa relação filial, íntima e carinhosa. Podemos então dizer que o Deus Pai de Jesus Cristo, o Senhor de Israel, o Deus dos patriarcas, o Deus Criador é também pai dos fiéis, dos que acolhem a boa nova.

O evangelista João categoricamente afirma que “ninguém jamais viu Deus”, não significando que ele é desconhecido. Aliás, Cristo o torna conhecido com nunca antes havia acontecido. O Filho é o revelador do segredo de Deus pelo fato de ser gerado por ele no mundo. É por isso também que o Filho é “cheio de graça e da verdade”, é o dom de Deus, a graça em pessoa. O conhecimento do Pai, adquirido pelo Filho, é inseparável do dom da vida filial concedida por sua mediação. Quando Jesus diz que “manifestou o nome de Deus”, ele não se refere a um termo, mas à sua natureza, ao fato de ele ser Pai, “meu Pai”. Sua relação filial é tão profunda que ao final ele não só falou do Pai, mas o mostrou, quando disse: “quem me vê, vê meu Pai”. Jamais um judeu ousaria dizer e agir ao modo de Jesus. Suas palavras a atitudes suscitavam a curiosidade de saber quem ele é, enquanto Ele, sem receio, afirma ser o Filho de Deus.

Jesus vive por seu Pai que o gera. Ele vive pelo Pai, é chamado Filho de Deus. Assim ele mostra a paternidade essencial de Deus. Todos os homens que são pais são filhos. Deus não. Ele tem paternidade absoluta, é pai por excelência. Homem nenhum merece o título de pai, tal como é designado a Deus, pai de Jesus Cristo, já que em Deus a paternidade se identifica com o seu ser. O homem se torna pai, Deus é Pai. Ele é Pai pelo amor que tem ao Filho, pelo amor que o gera. Em consequência, nenhuma de suas ações está desvinculada de sua paternidade. Todas as suas obras trazem os traços de sua paternidade e, em decorrência disso, da filiação.[1]

Mario Correia[2]


[1] Texto originalmente publicado no blog do autor: < http://mariocsj.blogspot.com.br/2012/02/deus-pai.html&gt;

[2] Seminarista da Diocese de Barreiras, no 3º de Teologia no IFTSC.